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sábado, 25 de janeiro de 2014

O Jardim de Mitsuko Kawai.

Conheci Mitsuko Kawai, na cidade de Bento Gonçalves, em 1994. No ano seguinte, 1995 ela me enviou pelo correio seus dois livros feitos à mão: "Uma Estrela Fugaz" e "Folhas Secas"; com uma dedicatória ao qual guardo com muito carinho. Em 2001 comecei a pesquisar seu paradeiro e descobri que já havia falecido. Felizmente, consegui contactar, através da rede social, sua neta, Loraine Kawai, que enviou alguns livros desta querida autora nipo-brasileira.
Tomado pela sua verve poética, comecei a me dedicar ao haicai e ao tanka e posteriormente conheci, através da coleção de livros de Mitsuko Kawai, as lendas do japão. Fiquei tão fascinado com as histórias que resolvi criar um espetáculo somente com narrativas de lendas japonesas e estreei em 2008, no Simpósio Internacional de Contadores de Histórias a convite de minha amiga, Benita Prieto.

Este ano, 2014, completa 20 anos que conheci Mitsuko Kawai, recebi dela, em 1995, este livro feito à mão de seus belíssimos tankas, a forma poética mais antiga do japão e que tem muitos praticantes no Brasil.
Neste mesmo ano, recebi um convite do ator Sérgio Britto, para contar minha experiência com a literatura japonesa, falei para ele que concordava em ir desde que fosse para reverenciar minha mestra, a mulher que me mostrou a beleza e profundidade da escrita oriental.
Segue um vídeo gravado na TV-BRASIL, em 2008, em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa no Brasil, onde faço uma leitura do livro "Uma Estrela Fugaz".

Programa "Arte com Sérgio Britto" 2008.



Uma Estrela Fugaz
Tankas de Mitsuko Kawai

I

Deixou gravado
nos olhos um fulgor de fogo
que consome num instante
estrela incandescente
desaparece no espaço

*

Como se fosse
um sonho impalpável
desaparece distante
arco-íris que coloriu
o céu de verão

II

Quando sinto
nostalgia do amigo distante
revive no meu ouvido
a voz que sussurrou
as palavras de despedida

*

Parece que
ouço a voz
quando leio e releio a carta
do amigo que chegou de longe
atravessando várias fronteiras

III

Quantas mãos
antes haviam
tocado nesta cerca
ao sgurá-la me transmite
o calor da primavera

*

Meu coração
entristece ao ver
a borboleta colorida que não consegue voar mais
desde que meu amigo partiu
aqui se estabeleceu o outono

IV

Olha para
onde que vem
olha para onde que vai
conchinha se enterra na
areia branca com resignação

*

Parece longe
mas vive bem perto de mim
cada recordação do passado
na noite de insônia
só perfume de jasmim que me envolve

*

Se tivesse amanhã
depositaria minha esperança
no dia de amanhã
contemplo a lua nova
quase querendo rezar

.

(Mitsuko Kawai - 1993)

Nascida na cidade de Kiryu, Japão. Desde 1934 residiu no Brasil, foi redatora e tradutora do "São Paulo Shimbun". Traduziu e publicou, entre dezenas de obras da literatura brasileira: "O Guarani", de José de Alencar, "A Muralha" de Dinah Silveira de Queiroz, "As Velhas", de Adonias Filho, "Chão Brunto" de Hernani Donato. Traduziu também centenas de contos infantis e Lendas Brasileiras. Em livro, "A Amiguinha do Sol", de Lia Campos Ferreira, foi a primeira a ser publicada. Foi também tradutora de poemas de autores de países da América Latina, que foram publicados na revista "Poema", do Japão.
Mitsuko se assumia como "Poestisa de Tankas" e publicou seus dois livros: "Uma Estrelas Fugaz" e "Folhas Secas" no méxico com títulos em espanhol e depois, ela mesma, traduziu para o português. Publicou também para o castelhano e português: "Introdução ao GuenJi Monogatari". Foi membro da Academia Barsileira de Literatura Infanto-Juvenil, Academia Piracicabana de Letras, Academia de Letras Municipais do Brasil e condecorada com a ORDEM NACIONAL DOS BANDEIRANTES.
Faleceu no final dos anos 1990.

Conheça mais sobre Mitsuko Kawai, acessando este link escrito por Fabio Oliveira, em 2011. Mitsuko Kawai, jornalista tardia.


2 comentários:

  1. emocionante depoimento, jiddu. maravilha a gente ter acesso a essas pessoas e ao teu conhecimento. parabéns!

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  2. Ela sempre escrevia com amor, com o coração. !

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